sexta-feira, 18 de maio de 2007

Re-ligue djá


Escrito por Ricardo Guimarães para a Revista Trip . Os comentários em parênteses e os links são meus.

Em tempos difíceis como o nosso (são tão otimista que não vejo tempos difíceis). otimismo pode fazer toda a diferença na hora de aproximar pessoas e idéias.

Conexão é uma palavra moderna, mas eu prefiro re-ligação, porque dá um sentido histórico para o conectar. Religar o que foi desligado. Vejo milhões de sintomas da sociedade atual na busca dessa re-ligação. Sim, sou otimista, você sabe. Se alguém ainda não se convenceu dessa mudança, é bom dar uma olhada no livro O Ritmo da Vida – Variações do Imaginário Pós-Moderno, de Michel Mafessoli (Record). Re-ligar corpo e
espírito, espaço e tempo, terra e céu, estética e ética, razão e intuição, ordem e caos, Apolo e Dionísio, indivíduo e sociedade, cultura e natureza, sentidos e sentido. Mas não acho que, no geral, a busca dessa re-ligação seja consciente ou virtuosa. O que é muito legal. Acho que é instinto de sobrevivência da humanidade na jornada de evolução do que chamamos vida nesse planeta.

Quem tem olhos para ver, como Mafessoli, está encantado: “Moda, corpo, ecologia, esporte, música, hedonismo, imagens são as palavras-chave das novas tecnologias do cotidiano, cuidando de favorecer da melhor maneira possível a criatividade cujo objeto essencial é desfrutar do mundo que se oferece à visão e à vida. A este respeito, a Internet é uma boa ilustração de um verdadeiro re-encantamento do mundo.”
O destaque é dele. É importante ver animadamente a nova realidade que está surgindo porque estamos vindo de uma cultura de separação, de divisão, de individualismo, de materialismo, de um racionalismo utilitarista que, associado à neurótica necessidade de controle e posse, adoeceu nossa imaginação e empobreceu a vida no que ela tem de melhor: o sentido integrado aos sentidos.

O resultado dessa cultura não está apenas nos relatórios do IPCC, no terrorismo, no tráfico de drogas, mas, principalmente, no coração da maioria de nossos contemporâneos que nunca tiveram tanto medo. Medo do outro, medo do futuro, medo do planeta, medo do nosso estilo de vida, medo do progresso – meu bem, meu mal. O medo, irmão gêmeo do pessimismo, nos cega para ver a transformação que a sociedade está vivendo e nos faz gastar a preciosa energia da re-invenção, levantando muros e suspeitas, lamentando a destruição necessária dos nossos pequenos mundos de isolamento e insensibilidade.

Daí a importância do re-ligar, do estar junto de si, do outro e da natureza, porque quando se está junto, não há espaço para o medo, e a sinergia do junto re-inventa a realidade na direção de nossa felicidade. Quando falo junto não é para ficar de mãos dadas, grudado, como se re-ligar fosse coisa de religião que põe todo mundo no mesmo lugar fazendo as mesmas coisas. O junto a que me refiro não é espacial, é temporal. É no plano da consciência. É no plano da conectividade que liberta e emancipa. Mal comparando, é como o celular que permite o filho ir longe do pai com segurança porque os dois estão ligados. Tenho insistido muito que, antes de abrir o jornal, as pessoas precisam decidir se são otimistas ou pessimistas. O fato é o mesmo, mas as leituras são totalmente diferentes. O relatório do IPCC, por exemplo: o pessimista fica chocado e lamenta o aquecimento global; o otimista celebra o fato do relatório existir, portanto as pessoas, agora conscientizadas, poderão tomar as providências.
Outro dia, uma pesquisa publicada pelo jornal Valor, numa visão pessimista dizia que os jovens de hoje não são idealistas. O otimista vê no realismo do jovem atual a melhor base para construir um mundo mais eficiente e seguro.O relatório TrendWatching de semanas atrás dava pessimistamente o título de Tirania da Transparência ao fato de vivermos em tempo real. O otimista vê na transparência um cenário aliado para eliminar os bastidores que protegem os sacanas e suas sacanagens. A re-ligação permite a sintonia (como antena mesmo) com o espírito da época (zeitgeist) e liberta as pessoas da visão curta e trágica do fato sem contexto, tá ligado?
Boas conexões.Ricardo.