segunda-feira, 30 de julho de 2007

Barrados no Baile

Escrito por Dora Kramer



A passeata que levou às ruas no fim de semana gélido de São Paulo, manifestantes para homenagear as vítimas do acidente do Airbus A320 foi um misto de protesto contra o governo e ação em prol da cidadania, mas serviu também como recado aos partidos porventura interessados em pegar uma carona ou em desqualificar atos dessa natureza.

Se participaram 3 mil ou 6 mil pessoas - de acordo com aqueles cálculos empíricos de sempre - não importa. Aqui realmente tamanho não é documento.Se foi a primeira de uma série de ações semelhantes, se apontou para o sucesso ou fracasso da campanha "Cansei", alvo de desqualificação aqui e ali por ser identificada como "movimento de ricos", tampouco é o que interessa agora.

Entre outros motivos porque não se sabe se, passado o impacto do desastre, tais atos terão continuidade nem se haverá mesmo uma reação significativa da sociedade na exigência da palavra de ordem síntese da passeata - "respeito" - ou mesmo se essas mobilizações terão qualquer efeito sobre a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva.

Essencial naquela manifestação foi o sinal evidente de que partidos políticos, governistas ou oposicionistas, estão barrados desse baile, tenha ele a magnitude que tiver.Sagaz, o mundo político possivelmente captou a mensagem. Parlamentares estiveram ausentes e, no dia seguinte, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, tratou de arquivar a idéia de o partido preparar uma contra-ofensiva às manifestações em articulação.

No protesto paulistano, só um punhado de militantes da juventude do PSDB se atreveu a aparecer por lá. Mal desembrulharam as bandeiras com as quais, ingênuos, esperavam marcar a presença do partido, e foram expulsos por uma reação coletiva e espontânea, cujo lema não escrito parece ser "político não entra". A rejeição daquelas pessoas - e não seria exagero afirmar, da maioria de tantas outras - à instrumentalização de suas emoções pelos partidos atuantes no cenário nacional permite duas interpretações, uma negativa e uma positiva.

Ruim será se a exigida distância dos partidos resultar da pura e simples despolitização, da raiva à deriva, cuja conseqüência mais perniciosa é a negação do sistema representativo em si (e não de como ele está funcionando no Brasil), a desmoralização do exercício político, que é o cerne da democracia e garantia fundamental contra retrocessos institucionais. Bom será se os partidos e os políticos souberem compreender o gesto e a partir dele perceberem a necessidade de restabelecer um diálogo com a sociedade em termos diferentes dos atuais.

Os governistas, com destaque para o PT, incorrerão em erro brutal se menosprezarem a motivação dos manifestantes e buscarem combatê-los, isolando-os na posição de cidadãos de segunda classe porque não se sentem gratificados pelo simples fato de um homem chamado Lula existir, porque têm senso crítico, querem ver as coisas funcionando direito e valores mínimos de comportamento serem respeitados no País.

Os oposicionistas também derraparão na curva do equívoco se não respeitarem a prudente distância deles exigida, se não guardarem um respeito obsequioso ao recado de que não souberam se apresentar como porta-vozes eficazes das insatisfações latentes e são, por isso, vistos como meros oportunistas. Ambos demonstrarão absoluta ausência de senso de oportunidade se insistirem em tirar proveito eleitoral, seja querendo surfar na onda da indignação, seja incriminando como conspiradores os indignados.

Aos políticos com razão e sensibilidade cabe agora perceber simplesmente que essa não é a hora deles, convém recolherem-se, de preferência usando a pausa para uma necessária (e tardia) reflexão. Se ousarem nos gestos de intromissão, para defender ou atacar, podem pagar o único preço a eles caros, o eleitoral. É a cidadania que abre alas e pede passagem. Se passará ou ficará onde está, perplexa, refém da autocomiseração em muxoxos pelos cantos, sem dizer exatamente o que quer, cabe a ela mesmo mostrar.

domingo, 29 de julho de 2007

Mobilização e Paixão

Hoje cerca de 5 mil pessoas caminharam por 5 KM até o local do acidente aéreo do último dia 17 de Julho.

A passeata serviu para extravasar a indignação com o a incompetência, negligência, corrupção e principalmente descaso com que as autoridades têm tratado o cidadão brasileiro.

“A sociedade brasileira exige respeito” era o título da convocação que circulou pela Internet durante a semana passada assinada por várias organizações apartidárias entre elas o CRIA (Cidadão Responsável, Informado e Atuante).

Uma mobilização bem sucedida.

Quais os ingredientes para novas mobilizações de sucesso, necessárias para provocar mudanças, choques de eficiência administrativa que este país tanto precisa?

Quais os componentes necessários para sensibilizar nossos governantes ou estimular pessoas competentes a participar da administração pública?

O primeiro ingrediente de sucesso de uma mobilização é a comunicação, ou fazer chegar ao maior número de pessoas uma mensagem capaz de envolvê-las.

Nunca na história da humanidade tivemos a disposição uma ferramenta tão poderosa de comunicação escrita, fotografada ou filmada tão livre e democrática como a Internet.

A Web 2.0 (a Internet com cada vez mais gente interligada por computadores cada vez mais potentes trafegando volume de informação cada vez maior e mais rápido) gera uma conectividade inédita entre pessoas independente de entidades editoriais.

A passeata foi difundida quase que exclusivamente pelas ferramentas da grande rede (E.Mail e até o You Tube) sem apoio relevante das mídias tradicionais. Em pouco mais de uma semana, 5 mil pessoas foram mobilizadas para caminhar numa manhã de domingo fria e chuvosa e outras tantas foram sensibilizadas pelo movimento.

O segundo ingrediente é sem dúvida a motivação, o estímulo ou a paixão.

A mensagem foi capaz de concretizar o sentimento de indignação com a incompetência, negligência e corrupção do cenário político atual.

A paixão é um dos maiores patrimônios nacionais. O povo brasileiro sabe apaixonar-se como ninguem. Pelo futebol profissional ou com os amigos (por formas femininas) , pela família e filhos, por caminhar no parque ou na praia, por jogar conversa fora, por viajar, por festejar, por comemorar. Somos intensos e quando nos decepcionamos também o fazemos apaixonadamente.

Falta incluir a política e a cidadania como tema, nada fácil frente às preferências nacionais.

Ressalto aqui o esforço de políticos como Marta “relaxa e goza” Suplicy, Marco Aurélio “top top”Garcia e Luiz Inácio “tenho medo de avião” da Silva de enriquecer (ou empobrecer) o vocabulário político com expressões do cotidiano, tentando (com inquestionável fracasso) aproximar a política da realidade do brasileiro.

Enfim, nunca foi tão fácil colaborar, participar, gerar eficiência, ser produtivo, exercer transparência e interdependência com as novas ferramentas da web.

Estaremos evoluindo ou simplesmente Criando as ferramentas necessárias para sermos viáveis como sociedade e país no futuro?

Será que aos poucos percebemos que se não formos Cidadãos Responsáveis, Informados, e Atuantes, nossas paixões (preferências nacionais se preferir) que, antes pareciam distantes da política chata, estão ameaçadas ?

Será que aos poucos percebemos que as coisas simples capazes de nos manter apaixonados pela vida como a segurança de nossas famílias, nosso direito de caminhar livremente, viajar, festejar ou mesmo empreender para nós e nossos filhos estão ameaçadas se não nos tornarmos Cidadãos Responsáveis ?

Estarão nascendo os Cidadãos 2.0 que usam as possibilidades de nosso tempo para exercer Responsabilidade, manter-se Informado e Atuar ?

Estarão nascendo os Cidadãos 2.0 que estimulam e mobilizam seus pares a colaborar e transformar a oca administração pública em ambiente de excelência e eficiência cada vez mais presente na iniciativa privada?

Estarão nascendo os Cidadãos 2.0 capazes de incentivar líderes de verdade de chegar ao poder como meio de trazer excelência e eficiência a máquina pública e não como fim de acomodar a si próprio e a seus compadres ?






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Bem vindo à diversidade (política para alguns)


Algumas horas após a passeata, os principais portais noticiavam o evento.

Chama atenção a coluna do Felipe Corazza Barreto no Terra Magazine.


O título : ““Fora Lula” domina passeata do “Cansei””

“...o tom político e partidário surgiu em pouco tempo logo no início da caminhada....”

Será uma prova clara que ao mobilizar, os desdobramentos e interpretações podem ser diferentes dos planejados?

A Internet potencializa a diversidade. Não será mais legítimo o que sobrevive a diversidade?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Perdi dois amigos para a incompetência

O acidente da TAM foi realmente chocante. O Airbus 320, com capacidade para 162 passageiros, praticamente lotado, chocou-se contra o prédio da empresa, aparentemente em tentativa de manobra de arremeter a aeronave. O choque aconteceu a cerca de 180 KM/h.
Estima-se mais de 250 mortos entre passageiros, tripulantes e pessoas em terra no maior acidente aéreo da história do país (como gosta de alardear a mídia)

A causa mais provável foi a falta de aderência necessária da pista para redução de velocidade do avião. A chuva e a falta de ranhuras no piso, recomendação técnica dos manuais de aviação internacional, já tinham sido a causa de uma aeronave desgovernada pouco mais de 24 horas antes.

O aeroporto foi aberto a 19 dias e a “pressa em faturar nas férias” (segundo depoimento no Estado) antecipou a entrega das obras sem a finalização técnica no piso. Afinal não estamos em época de chuvas.

Chama atenção o depoimento de um comandante (anônimo é claro) dizendo que, apesar do receio dos pilotos em aterrissar em Congonhas, eles o fazem senão perderão o emprego.

Uma tragédia anunciada segundo os jornais.

Duas destas pessoas eram próximas. Irmãos, um deles acabava de fazer 40 anos. Deixaram juntos 5 filhos. Eram sócios e viviam ótimo momento profissional na onda da euforia do mercado automotivo e planejavam abertura de capital da empresa.

Imagino que deva existir outras 250 histórias tão comoventes. Mas, por estar tão próximo (tínhamos a mesma idade e trajetórias parecidas) o impacto é diferente. Podia ser eu ou você viajando a trabalho. Tão comum.

Sim. A incompetência, a corrupção, o descaso, o individualismo, o corporativismo político mata.

Além de fazer pontes que ligam nada a lugar nenhum, desafiar a nossa inteligência, a incompetência inaugura uma nova dimensão. Ela mata.

Além de matar nosso potencial de crescimento como nação, a incompetência agora mata gente (a gente) via infra-estrutura oca.

E aí?

Eu, você, todo mundo estuda, trabalha, cria, empreende para que?

Para criar ambientes de excelência e competência para nós e nossos filhos?

Que tal começarmos a tomar as rédias e levar essa excelência para o poder público?

Vamos fazer alguma diferença para aquelas 5 crianças que ficaram e para as nossas ou vamos ficar sentados, revoltados, reclamando....?

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Web Semântica 2

Qual é o futuro da web, segundo o seu criador


Por Peter Moon, especial para o IDG Now!


Em entrevista exclusiva, Tim Berners-Lee, o criador da web, fala como a Web Semântica vai deixar a rede mais inteligente.

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define o termo semântico como sendo “o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados”. Tim Berners-Lee, o homem que inventou sozinho a World Wide Web em 1989, pegou emprestado este termo para batizar a internet do futuro.

Trata-se da Web Semântica, um conjunto revolucionário de tecnologias que ele está desenvolvendo neste exato momento, como diretor do World Wide Web Consortium, órgão ligado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Nesta entrevista exclusiva por telefone, este londrino de 52 anos, agraciado em 2004 com o título de Sir pela Rainha Elizabeth II, explica como imagina o futuro da maior de todas as redes e decreta:

A Web Semântica será muito mais poderosa do que tudo o que conhecemos.

O que vem a ser a Web Semântica?

O modo mais simples de explicar é: no seu computador você tem seus arquivos, os documentos que você lê, e existem arquivos de dados como agendas, programas de planejamento financeiro, planilhas de cálculo. Estes programas contêm dados que são usados em documentos fora da web. Eles não podem ser colocados na web.

Um exemplo: você está procurando uma página na web para encontrar uma palestra que quer assistir ou um evento que quer participar. O evento tem um local e um horário e pessoas associadas a ele. Mas você precisa ler a página da web ao mesmo tempo em que abre a sua agenda para inserir as informações. Se quiser achar novamente aquela página, terá que digitar o seu endereço para ela voltar até ela. Se quiser os detalhes corporativos das pessoas, terá que cortar e colar as informações de uma página na web para dentro da sua agenda, porque o arquivo da sua agenda e os arquivos de dados originais não estão integrados com os dados na web. Assim, a Web Semântica trata da integração desses dados.

Quando você usa um aplicativo, deveria poder inserir seus dados de modo a poder configurá-los, informando o computador: “Eu vou nesta reunião”.

Quando dissesse isso, a máquina iria entender os dados. A Web Semântica é sobre a colocação de arquivos de dados na web. Não é apenas uma web de documentos, mas também de dados. A tecnologia de dados da Web Semântica terá muitas aplicações, todas interconectadas.

Pela primeira vez haverá um formato comum de dados para todos os aplicativos, permitindo que os bancos de dados e as páginas da web troquem arquivos.Mas, afinal, qual é a diferença entre uma web de documentos e outra de dados? Existem muitas diferenças. Pegue, por exemplo, os seus dados financeiros. Existem duas formas de observá-los. Se olhar numa página normal na web, eles parecem com uma folha de papel. A única coisa que se pode fazer é lê-los. Mas se observá-los num site da Web 3.0, você poderá, por exemplo, usar um mecanismo de busca para alterar a ordem dos dados, obtendo desta forma um acesso muito melhor aos mesmos.

Hoje, antes de realizar uma tarefa como pagar seus impostos, você precisa de um programa de gerenciamento financeiro. Ao fazê-lo, os dados não são carregados como uma página na web, mas como arquivos de dados. Esta é a diferença entre documentos e dados. Quando você procura documentos nos seus dados bancários, só é possível lê-los. Quando procura dados, pode descobrir o quanto de impostos está devendo ou qual é o total das contas a pagar. Não podemos fazer isso na web atual. Se fosse possível, as informações reunidas nos seus dados bancários seriam convertidas num padrão que só funcionaria com bancos.

Mas haverá padrões totalmente diferentes, padrões para uso em agendas, por exemplo. Hoje não se pode perguntar ao computador: “Quando foi que eu preenchi este cheque? Qual é o nome da função? Quando eu fui naquela reunião?” Não se podem conectar itens em diferentes arquivos de dados, a não ser que se use a Web Semântica. Ela é muito mais poderosa, porque nela é possível conectar dados sobre pessoas que tenham a ver com um determinado local e um determinado momento.

Mas esta integração completa entre dados pessoais, empresariais e governamentais não pode levar a uma invasão de privacidade?

Sim. Eu também tenho este medo! Um aspecto importante da Web Semântica se chama provenance. Esta palavra é um código que define de onde vêm os dados e o que pode ser feito com eles. Os padrões da Web Semântica permitem que se defina como você deseja manipular os dados aos quais tem direitos de acesso. Estamos desenvolvendo no MIT sistemas para mostrar, sem sombra de dúvidas, quais são os usos permitidos para as informações, de modo que se possa checar de onde elas vêm e o que significam, tendo-se a certeza de que não serão usadas em nenhuma forma não autorizada.

Mas não é preciso ter um mínimo de conhecimento técnico para definir estas preferências, o que não é o caso da maioria da população mundial?

Em primeiro lugar, quando se usa a Web Semântica para dados pessoais, eles não são colocados na internet aberta. Existe dentro do seu computador uma web pessoal para os dados da sua vida, para serem navegados localmente. No caso de softwares de planejamento financeiro, os sistemas dos bancos navegam através da rede no interior de um canal seguro e são executados localmente, no PC. Não se usa tecnologia de web. Seus dados pessoais não estão na internet. O que estamos falando é permitir ao usuário combinar as informações pessoais e empresariais a que tem direitos de acesso com informações públicas de modo a criar um conteúdo muito mais rico. Sobre o fato das pessoas precisarem de algum conhecimento técnico, isso às vezes é verdade. Mas no caso de uma agenda estamos manipulando dados, certo? Quando você usa uma agenda de endereços você está criando dados. Estes programas possuem interfaces amigáveis que permitem uma utilização sem grandes problemas, a menos que se usem programas incompatíveis. Estas interfaces foram desenhadas para facilitar o seu emprego pelo usuário comum. Estamos trabalhando para tornar esta tecnologia disponível àqueles que quiserem manipular documentos nas empresas. É verdade que não existe ainda tecnologia de Web Semântica que seja facilmente utilizável por pessoas idosas ou crianças.

Mas no MIT temos um grupo de pesquisadores trabalhando exatamente nisso, produzindo programas que permitam ao cidadão comum ler, escrever e processar os seus próprios dados.

Foi você quem formulou o termo Web Semântica? É a mesma coisa que a Web 3.0? Qual é a diferença entre a Web 2.0 e a 3.0?

Sim, fui eu. Foi em 1999, no meu livro "Weaving the Web" (Tecendo a Teia). A Web 2.0 é um nome para descrever como operam os arquivos usados na web. Com relação ao conteúdo gerado pelos usuários, isso ocorre quando as pessoas acessam web sites e classificam (tagging) informações, sobem uma fotografia ou constroem sites comunitários.

A Web 2.0, portanto, é baseada em sites comunitários. Mas não fui eu quem inventou este termo. Foi Tim O’Reilly, em 2005.Sobre a Web 3.0, algumas pessoas usam este termo para definir uma nova arquitetura de dados. Já outras usam como uma forma de regulamentação da tecnologia da web. Mas considere o futuro da tecnologia da web. Um problema típico bem conhecido dos arquivos 2.0 é que seus dados não se encontram num site, mas num banco de dados. Eles não estão na web, não podem ser manipulados. Pegue por exemplo um site profissional com informações sobre os seus colegas de trabalho, um outro site com informações sobre os seus amigos, além de sites de diferentes comunidades. Na Web 2.0 você não pode enxergar o quadro completo; ninguém pode ver o quadro completo. É por isso que algumas pessoas dizem que a Web 3.0 será uma realidade quando os sites exibirem dados que possam ser manipulados.Vejamos um outro exemplo: se um determinado site encontra informações úteis sobre os meus amigos no meu blog, então eu posso definir um ícone para informar ao meu computador: “extraia estes dados, analise-os e os adicione aos dados que tenho de outros sites, para então exibi-los todos juntos”.Quando a Web Semântica atingir todo o seu potencial, ela desencadeará um segundo boom da internet?Bem, sob certo ponto de vista isso já está acontecendo. Mas eu não acho que a web já atingiu todo o seu potencial, e ela já está aí faz quase 16 anos. A Web Semântica irá decolar quando as pessoas começarem a colocar links públicos de dados na web, adicionando dados e arquivos pessoais. Mas acredito que ainda vai levar muitos anos, porque muita coisa terá que ser feita para torná-la uma realidade.


O que é a Neutralidade na Net? Qual é a sua posição com relação a isto?

Trata-se do seguinte: quando você e eu pagamos para nos conectar na internet, podemos nos comunicar não importando quem quer que nós sejamos. O que mais chama atenção hoje na rede são os vídeos. Eles estão tomando conta da net. Uma empresa como o YouTube atrai muita atenção porque transmite vídeo pela web, aproveitando-se do fato de que, em muitas regiões do mundo, a largura de banda está se tornando cada vez maior.
Agora suponha que eu esteja em Massachusetts, seja um fã de cinema independente e queira encontrar um filme brasileiro. Eu entro na internet para procurar no Brasil os meus diretores e filmes independentes prediletos. Mas de repente o provedor de acesso em Massachusetts bloqueia a transmissão dizendo: “Não vamos deixar você fazer isso, porque nós vendemos filmes. Sim, nós fornecemos a você acesso à internet, mas impedimos que assista filmes.

Queremos controlar quais filmes você compra.”Eu já vi empresas de tevê a cabo tentarem impedir o uso de ligações telefônicas na internet. Isso me preocupa. Eu não quero que isso aconteça. Acredito ser muito importante manter a internet aberta para quem quer que seja. É isso que chamamos de Neutralidade na Net. É imprescindível preservá-la para o futuro.Em 2003, o governo brasileiro ao lado de outras nações propôs uma administração internacional para a internet, espelhada nos exemplos da União Européia e das Nações Unidas. Será que algum dia Washington irá permiti-lo?

Acredito que a internet irá se burocratizar aos poucos.

Isso é inevitável. É importante permitir que as pessoas de diversos países, dos países emergentes, desenvolvam o seu uso da internet o mais rápido possível. Mas a administração de algo tão grande nunca poderá ser controlada por uma burocracia única. Não sei que forma essa burocracia assumirá, já que existe muita política envolvida. Mas penso que seria importante manter a rede livre da ação dos governos e sem censurar as pessoas que a utilizam.

Certa vez você disse que criou a web para resolver uma frustração que tinha no CERN – o Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear, em Genebra. Como foi isso?

O CERN possui uma maravilhosa diversidade de culturas, porque gente de todo o mundo vai lá para pesquisar física. Em 1989, antes de existir a web, eu escrevi um memorando explicando como ela seria. Eu mencionava o sistema de hipertextos e a World Wide Web como um método para agregar e editar dados. Eu queria que todas as informações na rede do CERN pudessem ser facilmente acessáveis.

Queria desenvolver ferramentas para permitir às pessoas produzir e usar informações de forma colaborativa.

A primeira ferramenta foi um editor de web que permitia aos pesquisadores do CERN usar um documento, editá-lo e alterá-lo para então enviá-lo, inserindo links entre as páginas da web e documentos científicos. Minha frustração era que eu queria trabalhar com pessoas de países diferentes, usando máquinas diferentes, operando bancos de dados diferentes e distribuindo dados em formatos diferentes. A web forneceu um padrão para tudo isso.

Muitos pesquisadores ganharam milhões com a web, mas você preferiu continuar desenvolvendo padrões. Não acha que perdeu a chance de uma vida por não criar uma web proprietária?

Não, não acho, porque se ela fosse proprietária as pessoas não teriam usado nem contribuído para o seu crescimento. Ela não teria decolado e nós não estaríamos conversando agora.Empreendedores como Nova Spivak e o co-fundador da Microsoft, Paul Allen, trabalham com uma linha do tempo que prevê o advento da Web 3.0 em 2010 e até mesmo uma futura Web 4.0 em 2020. Consegue imaginar como seria esta Web 4.0?(Risos) Não, eu não consigo. Eu estudo tecnologia real. Eu não inventei a palavra Web 3.0 (ela surgiu pela primeira vez num blog em janeiro de 2006).

A web está em constante evolução. Na Web 2.0 existem tecnologias, como o JavaScript, que surgiram e se tornaram padrões por auxiliar as pessoas em suas tarefas. A maioria dos padrões que estão surgindo agora dará um grande impulso a iniciativas como a web móvel, que é o uso da web nos mais diversos dispositivos.No futuro teremos a Web Semântica que permitirá muitas outras coisas. Uma das características mais poderosas das tecnologias de rede como a internet, a web ou a Web Semântica é que as coisas que conseguimos fazer vão muito além da imaginação de seus criadores. Pegue, por exemplo, os inventores do TCP/IP (Transmission Control Protocol-Internet Protocol), os protocolos originais para a comunicação entre computadores na internet, criados por Vinton Cerf e Robert Kahn em 1974.

Como eles imaginariam que aqueles protocolos iriam se tornar a maior de todas as redes?

Quando inventei a web, pensava nela como uma infra-estrutura, como uma fundação para muitas outras coisas. A Web 2.0 permitiu o surgimento das redes sociais e muitos outros serviços. Quando a Web Semântica surgir daqui alguns anos, os usuários irão utilizá-la em formas que ainda não podemos prever. Por isso é uma bobagem tentar imaginar como será uma Web 4.0 quando nem sabemos o que será feito na 3.0.As pessoas que a estudam a Web 3.0 terão que desenvolver idéias para fazer esta nova tecnologia ter sucesso. Eles irão projetar coisas fantásticas, assim como os pesquisadores da Web 2.0 estão desenhando coisas fantásticas neste instante. Quem trabalhar com a Web Semântica irá fazer coisas muito mais poderosas. Não podemos imaginar como elas serão. Mas temos que construir a web para ser uma infra-estrutura. Ela nunca deverá ser usada para propósitos particulares. Somente como uma fundação para futuros desenvolvimentos.

A Cauda Longa da Informação 2

Internet está prestes a superar TV como mídia essencial, diz pesquisa

Por Linda Rosencrance, para o Computerworld*


Mais americanos escolhem a internet como meio de entretenimento e informação, segundo pesquisa da Edison Media Research.

Consumidores americanos foram consultados para escolher "o mais essencial" veículo de mídia em suas vidas. Dos entrevistados, 33% selecionaram a internet, número muito próximo dos que escolheram a TV, com 36%, de acordo com pesquisa realizada pela Edison Media Research.

Os números são significativamente maiores que os alcançados pelo rádio (17%) e os jornais impressos (10%)."Não é exagero dizer que a internet se tornou tão importante quanto a televisão como fonte de informações e entretenimento na vida dos americanos", disse Larry Rosin, presidente da Edison Media, em um comunicado.

Em 2002, 20% dos consumidores americanos afirmavam que preferiam a internet, comparado aos 39% que escolhiam a TV e 26% o rádio, segundo o mesmo estudo.A pesquisa envolveu 1.853 entrevistas por telefone conduzidas entre janeiro e fevereiro deste ano, com um público acima de 12 anos escolhidos de forma randômica, segundo a Edison.

A pesquisa também apontou que para 35% dos ouvidos o jornal impresso é o meio "menos essencial", acima dos 31% declarados em 2002.Para 38% dos pesquisados, a internet é o meio de comunicação "mais legal e excitante", índice que era de 25% na pesquisa de 2002.

No estudo, 37% afirmam que estão assistindo mais TV ultimamente, enquanto em 2002 o número era de 41%. Em 2007, o número dos que estão usando mais a internet que outros meios subiu para 34%, enquanto em 2002 era de 19%.

A Cauda Longa da Informação

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Nossos Pescadores do Amanhã


Eu: O que vocês querem ser quando crescer?

Eles: Silêncio

Eu de novo: O que vocês querem ser quando crescer?

Uma menina de uns 14 anos levanta a mão e convicta brada: Advogada. Eu quero ser advogada

Eu, diretamente a um garoto de uns 15 anos que me olhava desconfiado: E você?

Ele, sem convicção: Metalúrgico. Por causa do meu pai.

Uma menina interrompe encorajada pelos amigos: Pedreira. Eu quero ser pedreira.

Eu: Ninguém quer ser político? Presidente do Brasil? Vocês sabiam que o Lula era metalúrgico, torneiro mecânico como o pai dele (apontando para o menino)? Alguém da geração de vocês vai ter que ser. Por que não vocês?

O diálogo aconteceu a 2 horas de distância (em condições normais de temperatura e pressão do trânsito paulistano) da Faria Lima, na região entre Guaianases e Ferraz de Vasconcelos.

Ao final do trajeto fomos rapidamente cercados pelas construções típicas da periferia. São cômodos construídos desordenadamente. Temos a sensação de que só param de pé porque apóiam-se uns aos outros. Sem dúvida, parece que estivemos (o Estado, eu e você) longe por muito tempo dessa realidade, e agora queremos “tirar o atraso” (o trajeto até lá, devo admitir, é mais estruturado e policiado do que eu imaginava, em largas avenidas abertas recentemente)

Um desses aglomerados de cômodos é o Lar Criança Feliz, presidido pela Dona Josefa, coordenado por Silvia, Cacilda e Marcia e com os educadores Angelica, Débora, Islaine e Michele todos voluntários moradores da região. Uma “casa” de 3 andares que recebe, alimenta e educa 60 crianças entre 6 e 15 anos escolhidas da comunidade ao redor, desde que estejam estudando, para passar o período da manhã ou da tarde. Normalmente são de lares desestruturados. A alternativa seria as ruas.

Era a inauguração de uma parceria do Minha Vida com o Agente Cidadão (ONG que já ajuda a instituição a alguns anos).
Doaremos parte da receita da empresa com a venda de programas nutricionais para até 5 instituições até o fim do ano. Uma adaptação do conceito de débitos e créditos do carbono para as calorias e por isso chamado de Sustentabilidade Nutricional.
O projeto não só envolve doar alimentos (um pouco paternalista demais) como ensinar os educadores a ensinar as crianças sobre a importância de comerem de forma balanceada.

É sem dúvida, tocante ver crianças com sorrisos tão poderosos como o do meu filho que não terão as mesmas oportunidades na vida (deu vontade de levar alguns para casa).

Não. Estou convencido de que este não é o caminho (o paternalismo). Pode até ser o mais fácil e pode trazer algum alívio de consciência, mas não é capaz de transformar “ganhadores de peixe” em pescadores, fazedores e cidadãos conscientes.

A revista Veja da semana passada traz matéria de capa sobre Auto-Estima. A reportagem traz um estudo da ISMA-BR que constatou que os brasileiros possuem auto-estima baixa em comparação aos americanos e franceses. 59% contra 22% e 27%. Em paradoxo, 67% dos pesquisados disseram ser otimistas, contra 54% dos americanos e 49% dos franceses. É como dizer assim: Sim, nós vamos melhorar, mas não por minha causa (ó dia ó céus...)

A indústria da auto- ajuda (sou um consumidor contumaz) é unânime em descrever histórias de pessoas que contra tudo e contra todos construíram jornadas de sucesso. Na onda de IPO’s tupinikins, chama atenção a história de Marcos Antonio Molina dos Santos que iniciou a Marfrig aos 16 anos em 1986 como primeiro negócio, e abriu capital em 28 de junho último. A empresa é o quarto maior produtor de carne bovina do mundo com negócios na Argentina, Chile e Uruguai.

Será o ambiente determinante? Ou, é o que vêm de dentro, a capacidade de se auto-motivar e a auto-estima que fazem toda a diferença? Haja auto-estima para os jovens que vivem entre os labirintos da periferia e a longínqua realidade das novelas da TV. Pior ainda para os que são “perna de pau” ou, para os que não gostam de música que são as histórias de sucesso mais próximas e conhecidas de mobilidade social. A imensa maioria.

Toda vez que se discute segurança “neste paízz” a questão da educação surge com a principal entre outras. E junto o desânimo. Uma solução de longo prazo para um problema de curto. E eu concordo que é a principal, mas sobre outro enfoque, o da motivação. Não haverá sistema prisional, policial e judiciário suficiente (são muito necessários sem dúvida) se não trabalharmos a questão da motivação de vida (um dos principais ingredientes da auto-estima segundo os especialistas) de quem segura a arma do outro lado. Será que é impossível pensar em uma solução de modelo de educação (e formação de valores) de curto prazo?

Será que o modelo tradicional de educação é capaz de competir com a imagem de um jogador de futebol ganhando milhões de euros na Europa? Será que o modelo tradicional de educação é capaz de competir com os cantores de Rapp ou com as duplas sertanejas? Ou pior, será que o modelo tradicional de educação é capaz de competir com um traficante posando sem camisa com uma metralhadora Uzzi em punho cercado de meninas em um baile funk?

Não. Não é capaz. E, assim como a igreja católica tradicional “perdeu mercado” para as igrejas alternativas por falta de sintonia com a realidade de seus fiéis, o modelo tradicional de educação perde mercado para o culto a não educação. Até nosso presidente orgulha-se de ter chegado lá sem estudar.

Um modelo de educação eficaz tem que ser capaz de cuidar da auto-estima, inspirar, formar e motivar nossas crianças a encontrar seus próprios caminhos, a andar com as próprias pernas o mais cedo possível.

Não estou aqui incentivando o trabalho infantil (mas a auto-estima prematura), mas as escolas de futebol recrutam jogadores cada vez mais cedo, cantores fazem sucesso cada vez mais jovens, a Formula 1 têm os campeões mais jovens da história (Luiz Hamilton tem contrato vitalício com a MacLaren desde os 11 anos), e infelizmente o tráfico de drogas também têm discípulos que perdem a vida cada vez mais jovens.

Então temos cada vez mais cedo Ronaldinhos frustrados, filhos de Francisco frustrados e (graças a Deus) traficantes frustrados.

Faltam pontes (que insistimos em colocá-las nos lugares errados via Senadores corruptos) que liguem o estudo básico aos heróis da vida real. O Marcos da Marfrig (um legítimo valorizador de novilhos), o Nenê Constatino da Gol, o Seu Gervásio da padaria da esquina. Pessoas motivadas, apaixonadas e comprometidas com seus projetos de vida desde muito cedo.

Outro ingrediente, unânime entre os especialistas, para a boa auto-estima é a coleção de realizações positivas. Neste caso transparência e relação causa/efeito pode ser muito útil.

Está muito claro na sabedoria popular: Se jogar bem futebol (for um craque) ganho milhões, se cantar bem faço shows e ganho milhões, se me juntar o crime posso ganhar dinheiro agora. E se for bom em matemática? Se estudar história? E se eu tirar dez na prova de geografia?

Há espaço para quantos Ronaldos e Robinhos? Para quantos cantores bem sucedidos? Presídios para quantos bandidos? Haverá sempre muito espaço para empreender e reinventar as cadeias de valor.

Do outro lado, o mercado de trabalho carece de bons profissionais. No Minha Vida estamos fazendo um projeto para contratar profissionais de programação de software no segundo ano de faculdade porque os do terceiro já estão contratados. Empresas de produção de software estão recrutando profissionais em cursos de inglês já que é mais fácil ensinar programação do que o inverso. Cursos profissionalizantes são sim um caminho viável e necessário.

As novas tecnologias e a Internet são o cenário perfeito para promover o link entre, por exemplo a matemática e os algoritmos de Sergey Brin e Larry Page, fundadores do Google de quem aliás, a universidade de Stanford, principal incubadora do projeto, continua sócia. Exemplo de sucesso de ponte entre o ambiente acadêmico e o empresarial.

Recentemente fiquei chocado ao ouvir de uma mãe que em uma tarefa de pesquisa da escola a professora tinha proibido usar o Google. É como pedir para mandar uma carta pelo correio em vez de usar o email.


Viver é explorar as possibilidades do nosso tempo. E essas possibilidades vão cada vez nos surpreender mais. Elas são necessárias para acomodar 11 bilhões de pessoas na Terra em 2100 (segundo a ONU). São também oportunidade para novos negócios ou surgimento e reinvenção de novas indústrias. Os projetos que envolvem colaboração em massa entre países, culturas e empresas serão cada vez mais constantes nas sociedades cada vez mais abertas (e as fechadas ficarão cada vez mais isoladas, enquanto conseguirem ficar fechadas).

O Omni, um projeto que usa as redes sociais tipo Orkut para conectar pessoas que estão aprendendo uma nova língua foi o vencedor de um concurso promovido recentemente pela Microsoft de Bill Gates. Um exemplo de como essas comunidades colaborativas que hoje ainda têm um cunho exibicionista no Brasil (líder mundial disparado) podem transformar-se no futuro.

Os princípios básicos da educação devem ser a leitura (somos péssimos leitores), a escrita (digitação o quanto antes), o inglês (pela noção de diversidade cultural além da língua em si) e a inclusão digital que traz o raciocínio lógico e a matemática implícitos (com interfaces cada vez mais intuitivas, vide iPhone). Neste caso o projeto do computador popular de U$ 100,00 do Nicholas Negroponte é uma iniciativa poderosa e necessária. Essas são as ferramentas para as realizações mais rápidas do cidadão bem resolvido do futuro e deveriam ser entregues o mais prematuramente possível aos nossos pescadores do futuro.

Deixem-nos pesquisar sobre a vida de Dom Pedro I quando decidir tornar-se político ou navegar pelo mundo pelo Google Earth quando jogar vídeo game em rede com um competidor Chinês para entender onde fica a China.

Um sistema de educação eficiente, gerador de auto-estima deve valorizar a motivação e decisão em contraste a imposição.


Quanto mais rápido é um aprendizado motivado versus um aprendizado descontextualizado?

Lembra do filme Matrix? O Neo só recebia os conhecimentos via um programa de aprendizado diretamente no cérebro imediatamente antes de utilizá-los. Chegaremos lá? Será que já não estamos muito próximos?

Meu sonho é ser capaz de fazer a diferença para que aquelas mesmas crianças daqui a 15 anos, então cidadãos, colaborem para reinventar e adaptar as indústrias da construção, da metalurgia e o sistema jurídico brasileiro a realidade dos novos tempos. E por que não? Colaborem para criar uma nova classe política sintonizada mais com a realidade das comunidades (carentes ou não) do que com a realidade de suas boiadas.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Share of Passion - Brasil Lider Mundial


Publicado no Portal da Você S/A


Paixão pelo e no trabalho

Por Sylvio Alves de Barros Netto


Domenico de Masi lançou, no final da última década, o conceito do "ócio criativo", expressão que deu origem a um livro de mesmo nome. Segundo o sociólogo italiano, de 69 anos, é possível alcançar um nível de atividades que envolvam diversão, trabalho e estudo ao mesmo tempo.


O escritor chega a elogiar o Brasil, pela cultura do equilíbrio entre trabalho e lazer.


A obra é sucesso por aqui e tornou-se praticamente um mantra entre os menos adeptos do trabalho duro. Finalmente alguém entendeu o significado de todos aqueles dias na praia...


Um exemplo recente da aplicação da teoria do filósofo pode ser o Google, eleita em 2006 a melhor empresa para trabalhar nos EUA pela revista Fortune. A companhia permite que 20% do tempo de seus funcionários seja dedicado a projetos pessoais. Seria um benefício ou o reconhecimento formal de que as pessoas já fazem isso, talvez até em maior proporção, no horário comercial?


Algumas corporações tentam limitar o acesso à web, represando um rio com fluxo em crescimento exponencial. Uma pergunta aos profissionais de recursos humanos: haverá concreto suficiente para a represa, ou está na hora de preparar os surfistas para essa onda? Sim, há rios com ondas, e adivinha de quem é o recorde de permanência e distância do surfe em ondas de rio, com direito a Guinness e tudo? De um paranaense, na pororoca.


O Brasil está sempre na liderança de permanência na internet. São 21 horas e 44 minutos mensais, 15,5% à frente dos Estados Unidos, o segundo colocado. Em solo tupiniquim, já são 42,5 milhões de pessoas com algum tipo de acesso à web, segundo estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil, uma parceria entre o Ibope e o IBGE.

Somos líderes também em relação ao tempo gasto em sites de comunidades, com 20% do tempo. Os espanhóis, por exemplo, gastam 5,1%, enquanto os americanos, apenas 2,8%.


Enquanto isso, a Web 2.0 compete cada vez mais com o chamado tempo produtivo e criativo das pessoas durante o expediente. Ou a "web social" (sinônimo de Web 2.0) está finalmente se transformando no ambiente ideal para o que o sociólogo italiano chamou de atividades que envolvam lazer, trabalho e estudos ao mesmo tempo? Eu adicionaria transações à lista.


Afinal, não estamos entrando na era em que o vínculo motivacional finalmente prevalecerá sobre o empregatício? Ele sempre foi o mais importante, certo? Ou, como gostam os publicitários, era do share of passion? No final das contas, o que mais importa é a capacidade de um projeto, marca, empresa, comunidade ou produto estimular nossa paixão em trabalhar, comunicar, ajudar, compartilhar, criticar ou consumir - ações cada vez mais presentes na plataforma web, em qualquer lugar, a qualquer hora.


Motivação e paixão vão muito além do dinheiro, como bem definiu o psicólogo e consultor americano Abraham Maslow, por meio da hierarquia de necessidades, ou Pirâmide de Maslow. Esse campo nós conhecemos tão bem quanto aquele em que duas traves servem de extremidade.


Sim, é isso mesmo: temos tudo para alçar o Brasil à condição de líder, expert mundial em share of passion, principal fator que transforma a Web 2.0 de opressiva em libertadora. De dispersiva para eficiente e produtiva. De competitiva para colaborativa. De fechada para transparente. De independente para interdependente. Para esse salto, o Brasil pode ser campeão e virar o jogo. O empreendedorismo pede imaginação. Temos que ser capazes de pensar fora do quadrado. Começar do zero hoje é um diferencial. Ganhar ou perder depende só da gente.


Vamos ser os brasileiros que se apaixonam sempre e pensam grande, além daqueles que não desistem nunca!