segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Economia da Relevância


Publicado no jornal Meio e Mensagem

Silêncio! Respire fundo. Está percebendo? Há neste exato momento uma guerra enlouquecida, enfurecida por sua atenção.

É uma guerra em transformação. Um novo cenário tornará as batalhas mais limpas, menos grosseiras. Você, o consumidor está aprendendo rápido a tornar sua atenção invisível aos radares tradicionais dos “inimigos”.

Estamos cada vez mais preparados para isolar, filtrar, repudiar o que não for importante para nós naquele momento. As novas tecnologias, interfaces, gadgets, softwares, plataformas e comunidades plugadas – ou como quiserem chamar –, as ferramentas e os efeitos colaterais da web 2.0 começam a funcionar como filtros de relevância.

A relevância traz duas dimensões principais: uma demográfica e outra de interesse. O interesse está ligado ao momento de determinado perfil demográfico. O que não era relevante para mim, ontem, pode ser hoje.

Um artigo sobre a influência da alimentação balanceada no crescimento de crianças de até 5 anos pode ser importante para as mães com crianças dessa idade. Se naquele momento alguma delas tiver com um filho com alimentação irregular, o tema passa a ser relevante. Aquela mãe desejará aprofundar-se o mais rapidamente possível no assunto. Onde leio sobre o assunto? Pode gerar alguma doença? Devo procurar um médico? Há outros pais com essa inquietação?

Na economia da relevância, não basta apenas localizar o público-alvo, treinado para neutralizar a busca por sua atenção. Nesta nova economia, saem na frente as organizações que forem mais eficientes em tornar disponíveis informações, produtos ou serviços para o público no momento em que se tornarem relevantes.

Nesse cenário, transparência, comunicação e integração são fundamentais. O diferencial competitivo vai estar nas empresas que conseguirem trazer o consumidor para mais perto, a fim de participar de sua cadeia de valor de forma legítima, regular e constante.

Na economia da relevância, vale o “beta permanente”. Vale mais o processo que o produto. O processo contínuo de criação e aperfeiçoamento de produtos e serviços com o envolvimento dos consumidores passa a ser mais importante que os produtos e os serviços em si.

O internet banking no Brasil é um exemplo. Estamos integrados à cadeia de distribuição de produtos e serviços dos bancos. Não há intermediários. Além do ganho óbvio em produtividade e economia de custos, há um sistema contínuo de feedback sobre a qualidade dos serviços e sobre o que é relevante para os clientes.

Imagine então outras indústrias de posse de informações em tempo real de quem estiver consumindo seus produtos num determinado momento, com a possibilidade de interferir ou comunicar-se com essas pessoas instantaneamente.

A mesma web que traz os filtros de atenção para o consumidor de um lado representa um cenário inédito de integração com as instituições de outro, desde que estas gerem valor legítimo. Não adianta ter uma fantástica presença na web, se as empresas não tiverem cultura ou processos para conviver com as opiniões de seus clientes de forma contínua.

Os 50 milhões de usuários da internet no Brasil, segundo pesquisa DataFolha, que anunciam carros nos classificados eletrônicos, pesquisam hotéis para viajar, cadastram o nascimento de um filho para receber dicas sobre as fases importantes do crescimento ou participam de outras centenas de comunidades de afinidade registram os assuntos relevantes naquele momento. Dessa forma, sinalizam quais assuntos ou informações terão mais chances de conquistar sua concorrida atenção naquele instante.

As empresas que estiverem mais próximas desses clientes, com produtos e serviços alinhados e integrados com a relevância apresentada, vão inaugurar um cenário de eficiência inédito em suas cadeias de negócios: o cenário da economia da relevância.

A guerra agora é sutil. Os alvos movem-se com muita rapidez. Tiros de canhão cairão em terrenos cada vez mais áridos. Na era da sustentabilidade, a eficiência na aplicação de recursos faz toda a diferença. Fazer branding está ficando obsoleto.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Economia Espiritual


Somos maestros de nossa existência.

É uma das melhores metáforas que encontrei sobre a vida. Ela está no livro de Stephen Covey, Os Sete Hábitos Das Pessoas Muito Eficazes.O autor compara nossa jornada ao ato de reger uma orquestra. A orquestra da música da nossa vida.

Cada instrumento equivale a um papel que desempenhamos como pai, filho, avô, namorado (sempre, mesmo casado), amigo, inimigo (o momento de encarar quem torce contra), executivo/empreendedor (o momento do instinto caçador de abastecer o ninho), você com você mesmo (o momento do espelho, do espírito e da alma) e o cidadão (o momento de reclamar que nada funciona neste país, ou que o mundo vai acabar, ou não). A melodia será tão perfeita quanto nossa capacidade de desenvolver o máximo de instrumentos constantemente.

Nossa música estará desafinada (a vida em desequilíbrio) quando misturamos sons, criando ruídos. Se, ao perder um emprego ou sofrer um revés nos negócios tivermos um surto de raiva com nossos filhos, ou se uma desilusão amorosa representar um mergulho insano no trabalho. O som agudo não pode substituir o grave. Cada um tem sua natureza própria e complementam-se.

Uma dos sintomas mais comuns de desequilíbrio é o consumismo. É notório o estudo mercadológico da indústria automotiva que sugere que a compra de um carro conversível vermelho (nem sempre conversível e nem sempre vermelho) pode estar ligado a desejos sexuais mal resolvidos.

Quantas vezes você já não ouviu mulheres dizerem abertamente que iriam as compras para aliviar suas carências (nem sempre sexuais)?

Quantas vezes você comprou um presente para sua esposa, filho, sobrinho ou neto porque se achava em falta (de atenção ou carinho) com eles?

O Indiano Amit Goswami, em recente visita ao Brasil, defende que a principal causa das guerras e conflitos são os desequilíbrios econômicos, gerados principalmente pela inflação de demanda.

O próprio Alan Greespan em seu livro reforça a tese, definindo sua principal missão como evitar crises econômicas profundas causadoras das grandes guerras. Ele compara o papel dos bancos centrais, reguladores das torneiras dos juros, com o de um anfitrião que para de servir bebidas no melhor da festa, numa alusão de que as pessoas tendem aos excessos com as facilidades do crédito em ciclos de prosperidade econômica.

Amit estabelece um paradoxo entre a escassez de recursos naturais, insuficientes para o planeta se todos os 6.5 bilhões de habitantes tivessem o padrão de consumo médio dos EUA, e a abundância infinita de recursos como amor, carinho e atenção.

Ele sugere o consumo responsável aliado à alimentação adequada de nossas carências (afinação de nossos instrumentos) como forma de equilibrar nossa existência.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A Vítima Patrocina




A sustentabilidade está na moda, e o principal valor que ela traz é o da interligação entre as coisas, pessoas e fatos. A redução da geleira da Groenlândia esta ligada ao inédito verão da Grécia, aos furacões no Golfo do México e a emissão de Co2 do motor do Hummer na California. Recentemente vendemos crédito de carbono a partir de um aterro sanitário em São Paulo para a Alemanha.


A nova indústria do carbono nos ensina de forma científica e didática o que os espiritualistas e outros “ istas” menos materiais já nos dizem a anos. Que no final das contas as menores partículas são a matéria prima de tudo que nos cerca. Você, a tela do seu computador, a bola do seu filho o brinco da sua mulher ou o motor do seu carro. Que há uma conexão entre cada uma das 6,5 milhões de pessoas na Terra e, entre nós e os elementos da natureza.


Por mais insignificante que alguém possa se julgar, existir já significa gerar conseqüências, já implica em causa e efeito.


Gosto de pensar que a causa é sermos a melhor pessoa que pudermos ser e fazer descendentes ainda melhores. Esta ambição gera tranqüilidade espiritual, principalmente quando você olha para baixo e tem um pequeno ser te chamando de papai.


O efeito de nossa existência pode ser medido cientificamente pelas ferramentas de cálculo de emissão de carbono das coisas que são usadas no nosso dia a dia. Se você quer conhecer outras conseqüências da sua existência por um prisma, digamos sociológico ou, outro lado da sustentabilidade, digamos real, assista o filme Tropa de Elite.


O filme, obrigatório para quem quer saber porque foi assaltado no trânsito por um moleque armado que parecia ter deixado as fraldas há poucos anos, já é um clássico do crime. Mais de um milhão de cópias piratas foram comercializadas antes de inaugurar nas telas de cinema, o que reforça a legitimidade do cenário hipócrita e inconseqüente (ou insustentável) que vivemos, ilustrado como poucas vezes nas telas.


A figura de um capitão incorruptível, revoltado com a falta de consciência dos consumidores de drogas, que combate a polícia corrupta com mais energia do que os próprios traficantes, parece menos verossímil que a corrupção endêmica ilustrada com incomparável maestria.
Ao término da sessão duas coisas ficaram claras para mim:


Que o Brasil é realmente fantástico porque aceita muito desaforo. Poucos países no mundo parariam de pé depois de uma inflação de 80% ao mês e uma corrupção endêmica reforçada por uma sociedade hipócrita e inconseqüente (ou insustentável) como o Brasil.


E que a moda da sustentabilidade têm que ser transformada no combate a hipocrisia insustentável. Se o consumo de drogas é hábito de nossa sociedade, vamos institucionalizá-lo, legalizá-lo. Vamos aproveitar a onda de transparência do mundo e vamos iluminar estes cantos escuros que insistimos em fingir inexistência.


Na onda estatizante do Lulismo, vamos "desprivatizar" a comercialização de drogas, vamos incluir programas de saúde com atendimento a drogados e simpatizantes. Será um fantástico gerador de empregos e de divisas para o Estado.

Podemos também propor assentamentos para plantações de Cocaína, Maconha. Laboratórios de Êxtase poderão ser finalmente tomados e geridos pelos membros dos movimentos dos sem terra.

Enquanto isto não acontecer, os créditos do seu próximo tapinha ou tecada significarão cada vez mais débitos de vidas. Vidas cada vez mais jovens. Vidas cada vez mais perto.