Em setembro de1999, participei de um evento organizado pela Mackinsey sobre os recentes empreendimentos que usavam a Internet como plataforma. O mundo tinha parado para olhar o movimento da Nasdaq e os holofotes estavam na América Latina, agora a bola da vez, em busca de oportunidades de ganhos já realizados no recém nascido vale do silício.
Na platéia estavam os principais “farejadores” de oportunidades, representando seus próprios interesses ou de grandes grupos de private equity que por aqui começavam a aportar.
O painel eclético de apresentadores, muito bem selecionado pelo grupo de consultoria era composto por grupos de mídia (UOL e Terra ou ZAZ na época), first movers da Internet no Brasil, investidores já reconhecidos pelo faro apurado (Suzan Segel do Chase Manhatan tinha acertado a Star Mídia, primeiro grande case de projeto que ensaiava uma impensada onipresença na América Latina) e ,representando a nova geração de “empreendedores de garagem”, estava eu com a WebMotors ainda uma empresa na garagem.
Meu principal discurso, que ajudou a catalisar o investimento do GP Investimentos e do Chase Manhatan, duas das principais instituições de Privaty Equity da época na WebMotors - foi que a Web trazia, principalmente, valores de transparência e interdependência para um mercado acostumado a “caixas pretas” e a delegar tecnologia a um departamento de TI, normalmente discriminado como nerds estrangeiros. A disseminação da Internet trouxe a tecnologia para o nosso dia a dia “físico ou jurídico” como uma grande tsunami que ocupa todos os espaços por onde passa.
8 anos, uma crise de identidade e um ajuste nas expectativas depois, a Web continua desafiando os paradigmas estabelecidos e as mentes mais brilhantes. O discurso continua atual e agora sim estamos diante de uma revolução das cadeias de valor em todos os sentidos e setores. O Google, criado por nerds, vale hoje como marca mais que Disney e MacDonalds e foi eleito pela Fortune em 2006 a melhor empresa para trabalhar.
3 das 5 marcas mais admiradas no mundo hoje são de negócios de Internet (Google, You Tube e Wikipedia).
Nunca tivemos a nossa disposição tamanha infra-estrutura e conectividade ou, tamanha transparência e interdependência no mundo. Depois que o drive-thuru do Mac-Donalds nos Estados Unidos se prova ser mais eficiente e barato operado da Índia, tudo pode acontecer, ou tudo pode e deve ser revisto.
Nunca houve tantas descobertas científicas na humanidade como nas últimas décadas. A conectividade e infra-estrutura disponíveis hoje possibilitam um nível de colaboração e acesso a insumos inimagináveis, catalisando a combinação das descobertas . Desta forma é possível estabelecer graus de inovação que geram patamares inéditos de eficiência, produtividade e geração de valor na sociedade.
Hoje o empreendedorismo pede imaginação. Temos que ser capazes de imaginar o impensável já que os limites do impossível em nenhuma época foram tão elásticos. Como escreveu Thomas Friedman no "Mundo Plano", no mundo plano em exponencial o que pode ser feito será feito ou por você ou para você.
A única grande limitação é o uso fontes de recursos naturais do planeta que, em paradoxo é justamente o que está em jogo se não formos capaz de quebrar paradigmas, pensar fora da caixa ou pensar fora dos limites.
Apesar de estar em baixa depois que descobriram que sua casa no Texas gasta 30.000 dólares por ano com eletricidade, Al Gore, em seu documentário “Uma Verdade Inconveniente”, tem o mérito de ter trazido a discussão da sustentabilidade para fora do mundo acadêmico. Talvez a natureza esteja no limite da tolerância em relação a como determinamos nossa relação de troca e equilíbrio com ela.
Talvez este novo surto de inovação e produtividade seja necessário para a tão festejada sustentabilidade.
"Nunca ande por caminhos traçados, pois eles conduzem somente aonde os outro já foram" Alexandre Grahan Bell.