terça-feira, 19 de junho de 2007

A Cauda Longa da Informação


Cris Anderson, da Wired escreveu A Cauda Longa a partir do sucesso de um artigo do mesmo nome na revista.

O autor procura fundamentar no livro o processo de transição no marketing de massa para o marketing de nichos ou da cauda longa da curva de demanda, até definida como a escolha infinita. Segundo o editor de uma das mais respeitadas publicações sobre tecnologia, a digitalização dos conteúdos expandiu para “próximo do infinito” o espaço de estocagem antes limitado as prateleiras físicas.

Saímos do mundo da escassez dos átomos para o mundo da abundância digital. A Amazon é capaz de estocar quase todos os títulos de CD’s, DVD’s e livros indexados por temas e afinidade algo impensável no mundo dos átomos.

A famosa regra dos 80/20 (20% dos produtos representam 80% do volume de vendas) não se aplica ao mundo digital e, na verdade, existia mais por uma limitação dos espaços (para os 20% mais vendidos) que acabavam realimentando a regra.

Na Amazon, 98% de seus 100 mil livros mais importantes geraram pelo menos uma venda por trimestre. A Netflix (empresa de aluguel de DVDs na Internet) aluga 95% de seus 55 mil títulos no mínimo uma vez por trimestre.

A indústria mais afetada (antecipando o que deve acontecer em quase todas) por esta mudança de perfil de consumo talvez seja a fonográfica.

Em 2000 os 5 álbuns mais vendidos nos EUA representaram 38 milhões de cópias. Em 2005, os cinco álbuns chegaram a metade disso.

A mídia já não é capaz de mobilizar ou influenciar tanto quanto antes e, este grau de influência está em queda livre (No acumulado de janeiro a maio deste ano, o total de televisores ligados na Grande São Paulo no horário nobre foi de 61,6%, contra 64,1% no mesmo período de 2006, uma queda de 4%). Esta queda é proporcional ao crescimento e penetração da Internet.

As pessoas estão fazendo suas próprias playlits ou por influência de amigos e comunidades de afinidade, ou porque simplesmente podem agora comprar só uma música de um grupo que adorava na infância e tinha esquecido que existia (as vendas de CDs caíram 20% depois do iPod).

Se a mídia já não é mais capaz de influenciar na mesma proporção de antes as pessoas a ouvirem sucessos musicais, será que o mesmo já não tende a acontecer aos hits de informação políticos, sociais, comportamentais e econômicos? Será que as pessoas não farão seus próprios playlists ou seleções de notícias e suas fontes? Será que não estamos prestes a sair da manipulação em massas para a conscientização em nichos?


Quantos jovens que você conhece lêem jornais? Recente pesquisa nos EUA demonstra que as crianças estão tendo acesso aos gadgets tecnológicos cada vez mais cedo.

Assim como num futuro bem próximo já serão maioria os cidadãos que não vão querer que ninguém diga para eles o que ouvir, os cidadãos do futuro não vão querer que ninguém diga para eles o que ler ou qual o assunto da pauta. Quem fará a pauta serão eles. As pessoas estão começando a reassumir o controle de sua atenção, ou pelo menos a valorizá-la mais.

Então qual a ordem a se estabelecer? Será uma nova ordem anárquica? Será a organização da anarquia?

A alternativa para deixar as pessoas escolherem é escolher no lugar delas? Limitar as escolhas ou organizá-las de modo que não sejam opressivas?

Organizadas de maneira inadequada, as alternativas são opressivas; expostas de maneira apropriada, as escolhas libertadoras. A Web semântica já é um ensaio nesta direção.

Vou abandonar meu estilo provocador das perguntas e arriscar uma falta de humildade com um palpite:

O futuro da informação será auto organizado em diretórios de temas legitimados por comunidades. Quanto maior e mais relevante a comunidade em torno de um tema, maior será o seu sucesso. Uma coisa já implica a outra. A audiência já é legítima no mundo bi-direcional. No mundo da informação gerada e gerida de muitos para muitos.

Os principais valores destes diretórios serão a transparência, consistência e interdependência.

Mas, o maior de todos os valores em contraponto a o que assistimos hoje, é a continuidade.

A falta de continuidade dos meios de imprensa hoje é o grande fator de manipulação da opinião pública. A indústria das manchetes e escândalos acaba gerando uma sensação de ansiedade e dificuldade em gerar opinião sobre o que é realmente transparente. Está cada vez mais difícil enxergar a real transparência por traz das falsas pretensas transparências.

Viciada por sua própria estratégia de maximizar escândalos para atrair leitores, a imprensa acaba perdendo a credibilidade e capacidade de se ater aos reais fatos. Acaba também sendo vítima de manipulação já que novos fatos são artificialmente criados para abafar velhos.

Como nas prateleiras de átomos, as notícias têm, nos meios tradicionais de mídia limite de estocagem. Os jornais não podem acompanhar fatos velhos por que os espaços são limitados e priorizados aos fatos novos.

Os diretórios também serão capazes de expor não só opiniões de jornalistas como de colaboradores e pessoas comuns.


Alguns diretórios já acontecem:

Política: http://www.sunlightfoundation.com/blog (Em breve no Brasil)

Meio Ambiente: http://www.imazon.org.br/


Qual a sua Playlist?