quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O Alfabeto Está Obsoleto


Wikipédia:

“Em um estágio inicial (há 5.500 anos), a escrita era composta por signos pictóricos (descrições de imagens para servir de símbolos) que representavam objetos ou idéias, com um simples valor ideográfico. Por isso, eram necessários tantos signos quantos os objetos e idéias a exprimir. A escrita suméria tinha cerca de 20.000 ideogramas simples e compostos.


Em uma segunda fase, os signos passaram a representar não mais os objetos e as idéias, mas os sons com que tais objetos ou ideias eram nomeados no respectivo idioma. Os signos passaram a ter também um valor fonético, conforme o texto em que surgiam. Surge o alfabeto no século IX a.C..”


O alfabeto popularizou-se em 1450 com a prensa de Gutemberg e depois com a imprensa, a opinião pública e a democracia, se quisermos.


Será que este processo (a popularização do alfabeto) aconteceu no Brasil?

Segundo a professora Maria Elizabeth Bortone, professora da UNB em entrevista ao jornal Correio Braziliense, 75% dos brasileiros não dominam o exercício da leitura. Este número inclui os analfabetos absolutos e os analfabetos funcionais (68%) que têm dificuldade para compreender e interpretar textos.

A revista Veja, maior do país, têm tiragem média de 1,1 milhões de exemplares. Se considerarmos o número de até 3 leitores por revista serão 1,8% da população. Os dezesseis maiores jornais do país somados têm, aos domingos (dia de maior circulação), 2,5 milhões de exemplares ou 1,3% da população.

Será que, como na idade média, ler e escrever é privilégio, hábito ou capacidade de uma elite? (Opa!!! e a opinião pública e a democracia?)

De outro lado, a penetração da TV (e sua linguagem unidirecional de som e imagem) no Brasil está entre as mais altas do mundo. 91% dos lares segundo o IBGE.

Antes de qualquer forma de escrita, os conhecimentos eram transmitidos oralmente. Nas sociedades tribais os mais velhos eram respeitados pela sua capacidade de transmitir conhecimentos e história aos mais jovens.

Sem julgar (bom ou ruim), será que temos (a maioria dos brasileiros) mais intimidade em assistir e ouvir do que ler e escrever? (Será razão da famosa memória curta e um prato cheio para os políticos, oradores natos, que percebem que podem negar verbalmente para muitos o que foi provado literalmente para poucos?)

E, se esta característica, limitação para alguns, for oportunidade para os 190 milhões de brasileiros ? (e para a opinião pública e a democracia legítimas por aqui?)

Neste momento, uma nova linguagem universal está em criação no mundo, mais adequada ao cenário de conectividade mundial, e já mostra ter mais chances de popularização que o alfabeto no cenário tupinikin.

O Google foi quem primeiro explicitou as limitações do alfabeto no ciberespaço. Uma palavra é a representação gráfica de um som, não necessariamente de um significado. Uma palavra pode, e na maioria das vezes tem, significados ou semânticas diferentes. Incapaz de detectar o significado, os milhares de computadores do Google comparam textos e palavras e não significados. Experimente digitar “coração” no buscador.

Há uma corrida mundial para criação de uma linguagem universal de significados (a chamada Web Semântica). Esta nova forma de “escrita” será uma mistura de imagens, sons e símbolos, intuitiva e de fácil aprendizado. Estará mais próxima dos signos pictóricos, ideogramas e símbolos do que do alfabeto como o conhecemos?

A nova linguagem deve representar um retorno a nossa natureza bi-direcional (falar e ouvir, ler e escrever entre muitos, ver e ser visto) e já nasce em estrutura ubíqua (estará em todos os lugares ao mesmo tempo).

Quem desenvolve a nova linguagem?

Os mais de 1 bilhão de usuários de Internet no mundo. O seu filho, sobrinho que não conheceu o mundo sem o ciberespaço (nativos digitais). Pelos frenéticos usuários dos smartphones que checam mensagens entre garfadas nas refeições. Ou os Russos, Chineses e Croatas que, ao se ausentar de uma “mesa” de gamão virtual digitam um símbolo, já considerado universal: “BRB”.(Apesar de vir do inglês Be Right Back, muitos o usam sem saber sua tradução literal)

Enquanto isso no Brasil (onde, em 2007 as vendas de computadores devem superar as de TV)....
Colaboram para criar a nova linguagem universal...

...os cerca de 50 milhões de usuários de Internet (27% da população, segundo o Datafolha, que não lerão textos longos como este até o fim), que navegam mais de 21 horas mensais (líderes mundiais segundo o Ibope).

... os 30 milhões de usuários de Messenger (somos a maior comunidade de usuários do mundo)que usam símbolos, palavras abreviadas e textos muito curtos.

... e os 50% de usuários de Orkut no mundo.

Como os profissionais da moda, que extraem suas coleções a partir dos hábitos e estilos das ruas, nos próximos anos, um novo Bill Gates (por que não brasileiro?) extrairá do ciberespaço uma nova linguagem para homens e máquinas, mais adequada que o alfabeto, ao mundo conectado em banda larga com cada vez mais velocidade de processamento. (Infra melhor que as paredes das cavernas dos sumérios e seus 20.000 símbolos)

Mas, para onde isto tudo vai nos levar?

Às vezes é angustiante a velocidade com que as coisas estão acontecendo. É angustiante ver nossos filhos 14 horas em frente a um computador. É angustiante perceber que aquele pessoa que você abominava ver interrompendo o almoço para checar mensagens agora é você.

Mas, lembra quando você aprendeu a ler? Nenhum texto, faixa ou outdoor passava despercebido. Aos poucos seu cérebro aprendeu a filtrar o que era útil ser lido. O mesmo acontece com o impacto das novas tecnologias e interfaces de hardware e software. Daqui a algum tempo teremos a opção de interromper o almoço ou não para checar mensagens e isto significará liberdade e qualidade de vida.

Há dez anos (no mundo off line ou da conexão discada), quanto tempo você demoraria para pagar uma conta no banco, comprar um livro ou um CD, descobrir se tinha uma multa pendente no seu carro, pesquisar sobre uma viagem dos seus sonhos, ou sobre uma doença?

Acredito que estamos indo para um mundo melhor. Confio em nossa jornada coletiva.


Por mais paradoxal que possa parecer esta jornada de desenvolvimento tecnológico, que às vezes parece frenética, significa um retorno às nossas origens mais humanas, à nossa real natureza.

A nova linguagem universal criará um cenário inédito de comunicação e colaboração entre pessoas independente de línguas ou fronteiras econômicas e sociais. Já se multiplicam comunidades colaborativas na web que são saberes reunidos independente de endereço, posição econômica ou social.

Será este novo cenário fundamental para acomodar nossas gerações futuras, ou mais de 10 bilhões de habitantes na Terra, que já dá sinais de saturação?