quinta-feira, 27 de maio de 2010

Nova Lei da Sobrevivência


Lançada em 1926, e considerada por muito tempo símbolo dos carros esportivos nos EUA e umas das principais marcas da GM , a Pontiac fez seu desfile de despedida neste último dia 3 de maio. Com menos de 2% do mercado americano, batizada como o nome da cidade cede no estado de Michigan em homenagem a um chefe indígena do século XVII, todos os modelos deverão ter deixado as concessionárias até o fim de 2010.


Enquanto isso na sede da Hyundai nos EUA, os coreanos comemoram 4,7% de aumento das vendas em Janeiro em comparação ao mesmo período do ano passado com a implantação de uma campanha que garante o pagamento de prestações caso o consumidor perca o emprego, copiada agora, tardiamente pelas gigantes cambaleantes GM e Ford.

Desde então a montadora coreana foi a que mais ganhou participação no mercado líder mundial em queda livre de 40% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Do outro lado do mundo, na China, segundo mercado mundial, a mesma montadora teve aumento de 17% nas vendas em Janeiro enquanto o mercado Chinês encolheu 11%.

Qual a razão do sucesso? Qual o valor entregue ao consumidor?

Sua estratégia parece ser relativamente simples e não apenas reflexo de uma boa campanha de propaganda: Lançamentos mais freqüentes de produtos de boa qualidade e desempenho a preços mais baixos que a concorrência.

No Brasil, ela lançou pelo menos um produto a cada 6 meses nos últimos dois anos e pretende lançar outros 6 até 2011.

A estratégia sugere ser viável já que a Hyundai ganha dinheiro enquanto quase todos seus pares registram prejuízo. No primeiro trimestre do ano a montadora registrou lucro de 166,5 milhões de dólares, acima do previsto pelos analistas que, ao lado do anúncio do aumento de quase 5% na participação global da montadora, fizeram as ações da companhia dispararem.

Mas esta estratégia não é inovadora. Ela já esta presente na indústria digital desde o seu nascimento. Os lançamentos de parafernálias digitais que vão além do computador, mas representam a computação, tem uma freqüência desproporcional se comparada à indústria automotiva e entrega ao consumidor cada vez mais produtos e serviços por cada vez menor preço.

Um iPhone, além de telefone ele é máquina fotográfica, vitrola, porta CD ou MP3, GPS, guia de ruas e computador com acesso a web e tudo que ela proporciona como troca de mails ou mesmo para decidir que carro comprar e onde está o menor preço. Há 20 anos, estes produtos ou serviços, se disponíveis, custariam muito mais e só caberiam em um bom porta-malas. Hoje cabem num pequeno porta- trecos de um carro não muito diferente daquele de 20 anos atrás.

Esta evolução formidável foi possível graças, principalmente, aos custos decrescentes das capacidades de transmissão, armazenamento e processamento de dados, cunhada de lei de Moore (aumento de 100% de capacidade de processamento a cada 18 meses). Mas uma coisa são as capacidades instaladas e desenvolvidas, outra coisa é empreender ou transformá-las em valor nas cadeias estabelecidas e fazer as pessoas pagarem pelos serviços, o que remete a outra lei, a mais antiga de todas: a lei da sobrevivência.


A nova lei da sobrevivência empresarial sugere novas formas de empreendedorismo, agilidade e desprendimento que definem o equilíbrio dinâmico da nova indústria digital em beta permanente ou em constante destruição criativa.

Desde a criação da Microsoft em 1975 (que já se demonstra afetada pela idade) até o Google, passando pelo próprio Steve Jobs que se reinventou, voltando a dirigir a empresa que tinha criado, mas que o tinha despedido, esta indústria já criou e destruiu centenas de produtos, serviços e modelos de negócios diferentes.

A crise mundial iniciada no final do ano passado parece sugerir que a dinâmica do mercado digital esta mais adequada aos novos tempos de eficácia e produtividade e que a indústria automotiva mundial terá seus momentos de destruição criativa e que talvez os velhos processos de consolidação ou estatização não sejam suficientes. Há cinco anos quem imaginaria ser viável produzir um carro de U$ 2.500,00 como o Nano da Tata Motors?

No final das contas, se as oportunidades, capacidades instaladas, conectividade do seu cliente ou, seja lá o que for estão aí disponíveis e você não as estiver aproveitando ao máximo, alguém fará no seu lugar não importa em que indústria ou parte da cadeia você esteja estabelecido.