quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A Vítima Patrocina




A sustentabilidade está na moda, e o principal valor que ela traz é o da interligação entre as coisas, pessoas e fatos. A redução da geleira da Groenlândia esta ligada ao inédito verão da Grécia, aos furacões no Golfo do México e a emissão de Co2 do motor do Hummer na California. Recentemente vendemos crédito de carbono a partir de um aterro sanitário em São Paulo para a Alemanha.


A nova indústria do carbono nos ensina de forma científica e didática o que os espiritualistas e outros “ istas” menos materiais já nos dizem a anos. Que no final das contas as menores partículas são a matéria prima de tudo que nos cerca. Você, a tela do seu computador, a bola do seu filho o brinco da sua mulher ou o motor do seu carro. Que há uma conexão entre cada uma das 6,5 milhões de pessoas na Terra e, entre nós e os elementos da natureza.


Por mais insignificante que alguém possa se julgar, existir já significa gerar conseqüências, já implica em causa e efeito.


Gosto de pensar que a causa é sermos a melhor pessoa que pudermos ser e fazer descendentes ainda melhores. Esta ambição gera tranqüilidade espiritual, principalmente quando você olha para baixo e tem um pequeno ser te chamando de papai.


O efeito de nossa existência pode ser medido cientificamente pelas ferramentas de cálculo de emissão de carbono das coisas que são usadas no nosso dia a dia. Se você quer conhecer outras conseqüências da sua existência por um prisma, digamos sociológico ou, outro lado da sustentabilidade, digamos real, assista o filme Tropa de Elite.


O filme, obrigatório para quem quer saber porque foi assaltado no trânsito por um moleque armado que parecia ter deixado as fraldas há poucos anos, já é um clássico do crime. Mais de um milhão de cópias piratas foram comercializadas antes de inaugurar nas telas de cinema, o que reforça a legitimidade do cenário hipócrita e inconseqüente (ou insustentável) que vivemos, ilustrado como poucas vezes nas telas.


A figura de um capitão incorruptível, revoltado com a falta de consciência dos consumidores de drogas, que combate a polícia corrupta com mais energia do que os próprios traficantes, parece menos verossímil que a corrupção endêmica ilustrada com incomparável maestria.
Ao término da sessão duas coisas ficaram claras para mim:


Que o Brasil é realmente fantástico porque aceita muito desaforo. Poucos países no mundo parariam de pé depois de uma inflação de 80% ao mês e uma corrupção endêmica reforçada por uma sociedade hipócrita e inconseqüente (ou insustentável) como o Brasil.


E que a moda da sustentabilidade têm que ser transformada no combate a hipocrisia insustentável. Se o consumo de drogas é hábito de nossa sociedade, vamos institucionalizá-lo, legalizá-lo. Vamos aproveitar a onda de transparência do mundo e vamos iluminar estes cantos escuros que insistimos em fingir inexistência.


Na onda estatizante do Lulismo, vamos "desprivatizar" a comercialização de drogas, vamos incluir programas de saúde com atendimento a drogados e simpatizantes. Será um fantástico gerador de empregos e de divisas para o Estado.

Podemos também propor assentamentos para plantações de Cocaína, Maconha. Laboratórios de Êxtase poderão ser finalmente tomados e geridos pelos membros dos movimentos dos sem terra.

Enquanto isto não acontecer, os créditos do seu próximo tapinha ou tecada significarão cada vez mais débitos de vidas. Vidas cada vez mais jovens. Vidas cada vez mais perto.